ONU lança alerta sobre impacto de produtos
químicos do dia a dia
Atualizado em 19
de fevereiro, 2013 - 18:34 (Brasília) 21:34 GMT
Componentes químicos artificiais presentes
no nosso dia a dia podem ter um impacto significativo no sistema hormonal,
favorecendo o desenvolvimento de doenças, de problemas de fertilidade e males
congênitos, informa um estudo da ONU divulgado nesta terça-feira.
O estudo diz que o número de
químicos EDCs - químicos com efeitos endocrinológicos, na sigla em inglês -
aumentou "dramaticamente" entre 2000 e 2012, e muitos não são testados
quanto a seus efeitos na saúde humana e na vida selvagem.
Eles incluem aditivos em
embalagens, brinquedos, bens de consumo (eletrônicos, móveis, produtos de
limpeza), produtos de cuidados pessoais (xampus, cremes, sabão) e
farmacêuticos.
"Humanos estão expostos a
EDCs por diversas formas, incluindo ingestão de comida, poeira, água, inalação
e pela pele", aponta o relatório, feito em parceria da Organização Mundial
da Saúde e a agência da ONU para o meio ambiente (Unep).
"Esses químicos vêm de
fontes variadas, entram no meio ambiente durante a produção, o uso ou a
eliminação de químicos e produtos e provocam diferentes (efeitos)."
O problema, diz o relatório, é
que é ainda há poucos dados sobre como esses EDCs são produzidos e onde são
colocados. Também faltam estudos detalhados sobre seus efeitos no sistema
hormonal e sua relação com doenças específicas.
O que se acredita é que a
exposição a muitos desses químicos pode estar ligada a casos de câncer de mama,
tireoide e próstata, deformações em bebês, hiperatividade em crianças,
diabetes, asma, obesidade, males de Alzheimer e Parkinson, derrames e queda de
fertilidade.
Crianças podem entrar em
contato com EDCs no ventre da mãe ou na infância, colocando coisas na boca.
Produtos químicos
Entre os produtos químicos que,
segundo a ONU, podem alterar o sistema hormonal estão ftalatos (usados em
plásticos maleáveis e na produção de brinquedos, perfumes e farmacêuticos,
inclusive desodorantes); bisfenol A (também chamado BPA, substância usada para
endurecer plásticos e encontrada em embalagens de bebidas e alimentos).
O relatório diz também que
níveis relativamente altos de bifenil policlorado já foram encontrados em atuns
coletados na costa do Brasil; o componente é um dos fatores de risco para
câncer de mama.
Substâncias que são
ou podem ser EDCs (químicos de efeitos endocrinológicos)
·
Galaxolide (presente em cosméticos e outros produtos de cuidados
pessoais)
·
Metil siloxano cíclico (presente em solventes)
·
Paraben (presente em preservativos)
·
Ftalatos (presentes em plásticos maleáveis)
·
Triclosan (presente em antimicrobianos)
·
Foram identificados EDCs também em anticoncepcionais, terapias
hormonais, beta-bloqueadores, antidepressivos e antibióticos
Fonte: Relatório 'State of
the Science of Endocrine-Disrupting Chemicals', da ONU
Por enquanto, são poucos os
países - EUA, Canadá e algumas nações europeias - que baniram o uso de alguns
EDCs, especialmente em itens usados por crianças.
"No momento, apenas uma
pequena parcela de químicos e poucos tipos de EDCs são medidos, fazendo deles a
ponta do iceberg", prossegue o estudo, agregando que muitos produtos não
declaram esses aditivos químicos em suas embalagens.
"Deve ser uma prioridade
global desenvolver habilidades para medir possíveis EDCs e desenvolver um mapa
detalhado das exposições (a que estamos sujeitos)."
Vida selvagem
O relatório da ONU também
levanta preocupações quanto ao impacto dos EDCs na vida selvagem.
No Alasca (EUA), a exposição a
alguns químicos pode ter contribuído para defeitos reprodutivos, infertilidade
e má-formação em algumas populações de veados.
Grupos de lontras e leões
marinhos também estão sob risco por estarem em contato com químicos presentes
em pesticidas.
"Uma vez que um EDC entra
no corpo de um (animal) invertebrado, um peixe, ave ou mamífero através da água
ou da comida, o químico pode ser transportado a diferentes tecidos, onde pode
ser metabolizado, excretado ou armazenado", aponta o estudo.